Tuesday, August 16, 2016

Depressão, eu?


Ontem foi o 1º dia que tomei o meio comprimido de Sertralina que a Doutoura me receitou há mais de um mês.
Mais de um mês com a receita na carteira.
O facto de andar na carteira mostra que não tinha descartado por completo a hipótese de a comprar, o facto de não ter comprado dizia "eu consigo, eu não preciso".
Não tinha medo de precisar nem medo do que isso significava, tinha medo de não me conseguir "segurar" se os tomasse... Medo dos efeitos, medo de me perder.
Na 2ª feira voltei à consulta com a Psiquiatra, a segunda e ela voltou a referir a importância de os tomar. Só meio. Que o meu estado não era fraqueza, era biológico. Que eu estava a passar por uma fase de privação do sono e o corpo estava a reclamar.
Ter duas filhas é lindo e eu sei que estou a passar por uma das fases mais bonitas da minha vida mas o "não dormir" é como tortura. Um dia após o outro sem dia nem hora para recuperar.
Família não temos, somos só eu e ele e ele trabalha...
Então, está tudo dependente de mim: as moças, a casa, a roupa, a comida, nós, os outros e os compromissos. Tudo para eu fazer, para eu me lembrar, para eu resolver, para eu tratar. Sem dormir, comendo à pressa acabando tantas vezes antes de acabar porque já uma das duas precisa de mim.
Hoje pouco tempo depois da 2ª metade do comprimido ao telefone como o marido oiço-o com gritos guturais dizer que %&$#" uma mão.
Nestas coisas de sangues consigo ser muito visual e a dor e a agonia transmitida pelos berros que deu mostraram-me sangue a jorrar e uma mão destruída.
Sozinha com a S. em casa comecei instantaneamente a tremer, a suar e a sentir que ia desmaiar. Não sei se não o fiz.
A S. chorava. Não sei se por sentir que eu não estava bem, se do sono.
Ainda a desprendi do carrinho, pensando em deitar-me abraçada a ela, mas uma tontura mais forte mostrou-me que ela estaria mais a salvo no carrinho.
Aos caídos da cama fui-me sentar na sanita tentando recuperar e "controlar-me".
No pensamento: "eu sabia que não devia ter tomado a Sertralina".
Não sei quanto tempo passou.
Sei que a S. chorava e eu estive ali, sentada a suar, pingando literalmente pela ponta do nariz, pelo corpo uma camada de água fazia crer que tinha tomado banho ali.
No pensamento a preocupação constante "se desmaio quem dá conta da S.?" "ou de mim?"
Diarreia, vómitos, tremores, suores, tonturas e sensação de desmaio iminente.
5, 10, 15, 20 minutos?
Até que do outro lado se voltou a ouvir: "Estou?" "Estás aí?" "Está tudo bem?"
Acho que disse que não, mas não ouviu e como se eu tivesse que estar boa naquele segundo levantei-me e enfiei-me a cambalear para dentro do duche, molhei o corpo com água fria, lavei a cara rápido e voltei para junto do telefone que tinha ficado em cima da cama.
Estás bem, ainda bem!
Não contei o que me aconteceu.
Estavas bem, estava tudo bem, vesti-me e fui com a S. ter contigo ao hospital.

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