(mãe)
Hoje vi a minha mãe.
Atravessou a estrada.
Vi-a por entre o carro à minha frente.
Mantém a pose.
Sinto sempre como uma vertigem.
Como se de súbito fosse apanhada num sítio onde não devia estar ou a fazer o que não devia.
Aquele medo miudinho que é tão grande que me paralisa toda.
Ela passou e eu segui.
Veio comigo.
Trouxe-a por dentro sem saber. Chorei sem querer.
Não era suposto ser assim.
Já passaram dois anos. Um pouco mais.
Como? Porquê?
Como é que consegues?
O que é que eu te fiz?
És forte e eu sempre tive tendência para o drama. "És como a tua avó. Gostas de ser coitadinha" (dizias)
Não gosto.
E percebi tarde demais que também não gosto de ser enxovalhada.
Percebi tarde demais que por mais que fizesse, por melhor que eu fosse nunca teria um elogio da tua parte. O reconhecimento.
Só as críticas. As pragas. E o medo. Sempre o medo. E os outros. O que vão pensar. O que vão dizer.
E o deixar de fazer, e o esconder e o mentir. Por nada. Só por ti.
Sempre me senti maior do que me fazias sentir.
Hoje lembro-me de todas as vezes que calava os teus insultos e "fingia que nada tinha acontecido" como tanto gostavas.
Passar por cima das coisas. Sem falar. Sem esclarecer. Sem pedires desculpa.
Lembro-me de pensar baixinho, "antes assim porque já tive antes sem ela e custava-me mais"...
Só me dói que não te custe. Que sejas capaz de não me ter. E de fingir que está tudo bem nessa tua vida sem mim. Que passes por cima de mim como se eu fosse um vizinho a quem se deixa de falar.
Era suposto ser tua filha. Era suposto a minha filha ter uma avó.
Como? Porquê?
Engulo as lágrimas que não deixo cair e sigo em frente. Se tu consegues eu também hei-de conseguir.
E afinal o provérbio da boa gente é para quem se sente, não é?
Atravessou a estrada.
Vi-a por entre o carro à minha frente.
Mantém a pose.
Sinto sempre como uma vertigem.
Como se de súbito fosse apanhada num sítio onde não devia estar ou a fazer o que não devia.
Aquele medo miudinho que é tão grande que me paralisa toda.
Ela passou e eu segui.
Veio comigo.
Trouxe-a por dentro sem saber. Chorei sem querer.
Não era suposto ser assim.
Já passaram dois anos. Um pouco mais.
Como? Porquê?
Como é que consegues?
O que é que eu te fiz?
És forte e eu sempre tive tendência para o drama. "És como a tua avó. Gostas de ser coitadinha" (dizias)
Não gosto.
E percebi tarde demais que também não gosto de ser enxovalhada.
Percebi tarde demais que por mais que fizesse, por melhor que eu fosse nunca teria um elogio da tua parte. O reconhecimento.
Só as críticas. As pragas. E o medo. Sempre o medo. E os outros. O que vão pensar. O que vão dizer.
E o deixar de fazer, e o esconder e o mentir. Por nada. Só por ti.
Sempre me senti maior do que me fazias sentir.
Hoje lembro-me de todas as vezes que calava os teus insultos e "fingia que nada tinha acontecido" como tanto gostavas.
Passar por cima das coisas. Sem falar. Sem esclarecer. Sem pedires desculpa.
Lembro-me de pensar baixinho, "antes assim porque já tive antes sem ela e custava-me mais"...
Só me dói que não te custe. Que sejas capaz de não me ter. E de fingir que está tudo bem nessa tua vida sem mim. Que passes por cima de mim como se eu fosse um vizinho a quem se deixa de falar.
Era suposto ser tua filha. Era suposto a minha filha ter uma avó.
Como? Porquê?
Engulo as lágrimas que não deixo cair e sigo em frente. Se tu consegues eu também hei-de conseguir.
E afinal o provérbio da boa gente é para quem se sente, não é?
Labels: abandono, dramafamiliar, mãe