Ontem enquanto lia o livro novo que havia comprado de véspera..
O xavier aproxima-se de mim..
vem de fininho, pela calada
pára antes de me alcançar por completo
observa atentamente o virar de cada página
e então finalmente decide-se..
enfia-se por baixo dos cobertores e aninha-se a mim pousando a cabeça no meu ombro..
Tal situação torna-se desconfortável para mim,
porque assim já não consigo segurar o livro com as duas mãos,
mas ele parece não se importar
Enquanto me rendo a admirá-lo
lembro-me que em tempos eu dizia que não gostava de gatos.

Não tinha nenhum e as poucas ocasiões de convívio com algum nunca foram longas o suficiente me conseguirem cativar.
Achava-os altivos e peneirentos.
Metiam-me medo pelo temperamento instável,
sempre prontos a explodir e a mostrar as unhas!

Gostava era de cães.
Sempre bem dispostos e simpáticos,
que às primeiras já vinham cheirando e lambendo.
Que sem nos conhecerem de lado nenhum obedeciam e vinham quando os chamavamos pelo nome.
Achava-os fieis e bons amigos, ao contrário dos pouco fiáveis gatos.

Hoje, reconheço-lhes o mérito
elegantes a fazer o que lhes dá na real gana
e inteligentes no fingir que não percebem o que não lhes interessa
recatados na observação dos demais
e seguros de si, sem precisar de chamar a atenção
Um gato vem porque e quando quer vir
Um gato não confia nem desconfia das pessoas à primeira: dá-lhes espaço para se revelarem
Cada gato é único e sabe disso..
cada um delimita o seu espaço, o que gosta e o que não gosta.. e não faz fretes.. nem concede excepções..
o dono é o dono.. os outros são os outros..
Os gatos levam tempo a deixar-se conquistar.. mas depois.. são de uma ternura capaz de derreter qualquer um..

dou por mim a pensar que já fui mais tipo cão.. mas hoje sou mais.. miau!